GE acompanhou melancolia do time com estrutura incompetente após ascensão meteórica, mecenas, relação conturbada e ressuscitação frustrada, culminando em rebaixamento e crise.
O time de São Caetano sofreu uma dura derrota nos acréscimos para o Sertãozinho, o que resultou no seu descenso para a quarta divisão do Campeonato Paulista. A torcida lamentou profundamente o resultado final da partida, que acabou decretando o fim da permanência do clube na terceira divisão.
O Azulão, como é conhecido o São Caetano, agora terá que se reestruturar e buscar uma rápida recuperação para voltar a disputar as divisões superiores do futebol paulista. Os desafios serão grandes, mas a história de superação do clube mostra que é possível se reerguer diante das adversidades. Vamos torcer para que o São Caetano consiga retomar seu lugar entre os grandes do estado.
Ascensão meteórica em São Caetano
Fundado em 1989, o São Caetano levou pouco tempo para figurar entre os principais clubes do futebol brasileiro. O caminho foi sólido. Em 1993, o São Caetano já figurava na elite estadual. Vice-campeão da Série C em 1998, no ano seguinte disputou a Série B do Brasileiro. Em 2000, no Módulo Amarelo da extinta Copa João Havelange, foi finalista e ficou com o vice, sendo derrotado pelo Vasco em decisão polêmica após a queda do alambrado em São Januário e o término da competição apenas em 2001, em um jogo no Maracanã. Na elite do Campeonato Brasileiro, o Azulão foi finalista novamente em 2001, sendo derrotado pelo Athletico na decisão.
A boa campanha rendeu uma vaga na Libertadores da América. Em 2002, o São Caetano chegou à final com um time forte comandado pelo técnico Jair Picerni e eliminou os tradicionais Universidad Católica, Peñarol e América do México até a final contra o Olimpia. O título escapou por pouco: depois de vencer por 1 a 0 o jogo de ida, no Paraguai, o São Caetano saiu na frente no Pacaembu, com gol de Ailton, mas viu o Olimpia se impor e virar para 2 a 1, levando a decisão aos pênaltis e confirmando a conquista. O título paulista de 2004 coroou e encerrou cinco anos de ouro vividos pelo time do ABC paulista.
Depois daquilo, o Azulão colecionou resultados ruins – mais frequentes do que as conquistas (Copa Paulista de 2019 e Série A2 do Paulista de 2020), que parecem ter sido pequenos lampejos de uma ressuscitação jamais confirmada. Desde que decidiu o título da Libertadores de 2002, o São Caetano foi rebaixado oito vezes.
De mecenas em mecenas em São Caetano
O São Caetano recebia doações da família Klein, fundadora da rede de lojas Casas Bahia. O nome mais influente no clube era Saul Klein, que deixou o dia a dia do Azulão em 2020, após desentendimento com Nairo Ferreira, presidente por mais de duas décadas – e que se afastou do futebol no ano passado. Segundo Klein, foram doados pela família mais de R$ 80 milhões. No mesmo período, segundo ele, o São Caetano teria acumulado dívidas acima dos R$ 50 milhões.
A troca de farpas entre investidor e cartola acabou encerrando a relação entre a família e o clube. O desfecho do fim da parceria entre família Klein e São Caetano não foi positivo, principalmente para o clube. O auge da crise aconteceu em 2020, quando o Azulão acumulou mais de seis meses sem pagar salários para jogadores, fornecedores e funcionários.
Os atrasos fizeram o clube pagar dentro de campo. Revoltados com a situação, jogadores do São Caetano se recusaram a entrar em campo em jogo da Série D do Brasileiro, quando o Marcílio Dias venceu por W.O. Antes da greve dos atletas, houve ainda uma derrota em casa para o Pelotas por 9 a 0.
O resultado foi a eliminação precoce do São Caetano ainda na primeira fase da Série D de 2020, marcando a última participação do clube em uma divisão de Campeonato Brasileiro. O São Caetano chegou a ir a leilão por duas vezes, com lance inicial que baixou de R$ 90 milhões para R$ 60 milhões. Sem interessados, o antigo dono do Azulão conseguiu vitória na Justiça que o fez desistir da ideia.
Mudança de escudo e futuro em São Caetano
O novo dono ensaiou uma mudança radical no São Caetano, propondo uma troca de escudo e identidade visual, mas voltou atrás após repercussão negativa entre os torcedores. Jorge Machado admite o erro, mas cita que isso o fez acreditar na força que o Azulão ainda tem na cidade.
Jorge Machado diz ter tirado do próprio bolso entre R$ 15 e R$ 20 milhões para ‘manter o São Caetano de portas abertas’. A ideia do empresário é conseguir sanar as dívidas do clube aos poucos para ter fôlego para novos investimentos na captação e revelação de jogadores por meio das categorias de base.
Vamos disputar a Copa Paulista, os campeonatos de categoria de base e temos tempo para olhar mais isso. É uma região de muito talento, onde se peneira grandes jogadores e eu mesmo como empresário levei Mário Fernandes, Matheus Henrique, Gabriel Silva e jogadores de sucesso da região do São Caetano. Vou fazer peneiras em todas as regiões, vamos fazer o São Caetano de novo um representante de revelação de craques. O novo dono do São Caetano acredita que pode recolocar o clube na elite estadual em um prazo de até cinco anos.
A Red Bull comprou o Leipzig na quinta divisão e hoje é um clube que disputa a Champions League e a primeira divisão do Campeonato Alemão. Vários clubes que trabalhei vieram da quinta, terceira [divisões]. Claro que é possível, o São Caetano tem uma camisa forte, nome forte, uma cidade forte e está no vulcão do business que é São Paulo, claro que é possível.
O Azulão ainda deve tentar uma última cartada pensando na manutenção na Série A3 em 2025. O clube pediu investigação para a Federação Paulista de Futebol sobre as suspeitas de manipulação de resultados envolvendo a Matonense, que ficou na lanterna e foi a outra equipe rebaixada para a quarta divisão estadual.
Mais sobre o São Caetano
- Data de Fundação: 4 de dezembro de 1989 (São Caetano do Sul-SP)
- Principais campanhas: Campeão paulista (2004); vice-campeão brasileiro (2000 e 2001); vice-campeão da Libertadores da América (2002).
- Participações no Paulistão: 15
- Participações na Série A do Brasileirão: 7
- Participações na Copa do Brasil: 6
- Participações na Libertadores: 3
- Participações na Copa Sul-Americana: 2
- Principais jogadores: Adhemar, Adãozinho, Silvio Luiz, Luiz, Mineiro, Fábio Costa, Túlio Maravilha, Serginho Chulapa, Rivaldo, Euller, Gilberto, Marcinho, Claudecir, Dininho, Serginho, Esquerdinha, Wladimir, Marcos Senna, Douglas, Robert, Somália, Borges, entre outros.
- Principais técnicos: Jair Picerni, Muricy Ramalho, Emerson Leão, Tite, Cuca, Dorival Jr., Giba, Levir Culpi, Alexandre Gallo, Vadão, entre outros.
Fonte: © GE – Globo Esportes
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