Quarta-feira, 1º de maio, representante comercial Marina Cobalchini, 43, acordou em Salvador (BA). Irmão Jhonas, 36, chorou no telefonema: “Não restou nada, vem, nada restou.” Esperava notícias deslizamentos, enchentes (RS): 104 registrados, buscas, lama, entulho, 20 minutos entrevista, produtos da região, grande município. Angústia: 94 desaparecidos. Telefonema perturbador.
Em 1º de maio, a vendedora Marina Cobalchini, 43, acordou em Salvador (BA), onde reside atualmente, com um telefonema de seu irmão, Jhonas, 36.
Marina se surpreendeu ao ouvir a notícia triste de que seu irmão havia morrido em um acidente. Ela imediatamente ligou para seus pais e mãe, que foram encontrados em casa, devastados pela perda na família. A união entre os pais e irmã era o alicerce da família, e agora enfrentavam juntos o desafio de lidar com a perda de Jhonas.
Desencontro de notícias e esperança de encontrar a família perdida
Ele me ligou chorando e disse: ‘não sobrou nada, vem para cá porque não sobrou nada’, lembra. Naquela mesma quarta-feira (1) ela desembarcou em sua terra natal, na área rural de Bento Gonçalves, a 120 km de Porto Alegre, ainda na esperança de encontrar sua família com vida. As notícias vinham muito desencontradas. Uns falavam ‘vi tua irmã correndo’, ‘teu pai e tua mãe estão bem’, ‘teu pai está no hospital’. Até eu chegar aqui eu não tinha certeza, relata. Seus pais, Artêmio, 72, que era conhecido como Neco, e Ivonete, 64, foram encontrados dois dias depois. O corpo dela estava a mais de 200 metros da casa em que morava e o dele, a 2 km, no curso do rio.
Angústia pela irmã desaparecida e a busca incansável
Até o momento, 18 dias após os 104 deslizamentos registrados em Bento Gonçalves devido às chuvas, a irmã mais nova de Marina, Natália, ainda não foi encontrada. ‘De cinco ficamos dois’, lamenta Marina, antes de falar sobre as buscas. ‘É uma área muito grande, muita terra, muita lama, muito entulho, muita árvore. Ela pode estar soterrada e também tem a chance de ter descido pelo rio, como foi meu pai, e talvez ter chegado no próximo rio e ter ido’. Nos mais de 20 minutos de entrevista à Folha, Marina lembrou com carinho dos pais, que eram muito conhecidos no município porque tinham uma grande tenda com venda de produtos da região, mas não resistiu e chorou ao se recordar da irmã.
A lembrança da irmã e a esperança de reencontrá-la
Natália tinha 27 anos, havia se formado em direito há dois anos e tinha realizado o sonho de conhecer Nova York 15 dias antes do incidente. ‘Foi a primeira viagem internacional, era um lugar que ela tinha o sonho de conhecer. Tenho certeza que foi uma despedida, porque foi uma viagem maravilhosa que ela fez’, afirma. Marina descreve a irmã como ‘uma menina linda, sonhadora, extremamente vaidosa, uma pessoa feliz, de muitos amigos, estudiosa’. ‘Ela tinha um futuro lindo pela frente. Era muito batalhadora, muita esforçada, dedicada’. A irmã mais velha da família Cobalchini lembra da relação que a caçula tinha com a mãe. ‘A Natália era muito família, muito apegada à minha mãe. Elas eram muito cúmplices. Eu digo que até para morrer elas estavam juntas, porque eram muito, muito ligadas’, recorda. Os pais de Marina estão entre as 155 mortes registradas pelas enchentes e deslizamentos que atingiram o RS, enquanto a irmã integra a lista de 94 desaparecidos. ‘A angústia é muito grande. São 18 dias já e nada foi encontrado’.
Esforços na busca e a esperança de reencontrar entes queridos
Jhonas morava na casa ao lado dos pais, que encheu de lama, mas não foi levada pelo deslizamento. Ele não estava no local no dia e tem ido no local das buscas com a irmã. ‘Tem dias que a gente não avança porque o tempo não ajuda. Teve dias que praticamente não foi feito nada. Todos os dias a gente está aqui, mas tem vezes que a gente vem, fica um pouco, daqui a pouco volta. Ele agora está envolvido no trabalho da limpeza da casa dele, fez força-tarefa com amigos para limpar’, diz. Ela conta que sabia das chuvas que se acumulavam na região e, pouco antes do deslizamento,
Fonte: © TNH1
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