Cientistas da UFPE registram branqueamento de corais entre 40-60m no litoral brasileiro. Primeira ocorrência na mesofótica de zona montanhosa submersa. Agaricia fragilis, coral-de-fogo, M. alcicornis, outras espécies afetadas. Quatro espécies: M. cavernosa, Siderastrea, M. brasiliensis, M. harttii. Zoaxantelas-microrganismos nutrientes em relação mutuamente benéfica. Espécies da cadeia de bancos norteiros. (146 caracteres)
Cientistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) observaram, em abril deste ano, o branqueamento de corais situados em profundidades entre 40 e 60 metros, na costa do Brasil. Pela primeira vez, o fenômeno, desencadeado pelo aumento da temperatura do oceano e que pode resultar na morte desses seres vivos, foi identificado em tais profundidades no Oceano Atlântico Sul.
Esse branqueamento dos corais é um sinal alarmante dos impactos das mudanças climáticas nos ecossistemas marinhos. O esbranquiçamento dos corais é um processo preocupante que exige ação imediata para proteger a biodiversidade marinha.
Branqueamento de Corais na Zona Mesofótica
Com o apoio da organização não governamental WWF-Brasil, uma expedição científica realizada em abril em cinco bancos (topos) da cadeia montanhosa submersa Norte, localizada perto da costa dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, registrou o branqueamento em populações da espécie Agaricia fragilis que vivem a 60 metros de profundidade. Os cientistas constataram, aliás, que o branqueamento atingiu as seis espécies registradas nesses bancos, incluindo o coral-de-fogo Millepora alcicornis, que nunca havia sido encontrado habitando essa profundidade, a mais de 40 metros, ou seja, a chamada zona mesofótica.
‘Acreditávamos que essa espécie só ocorria no raso. E encontramos um recife impressionante de coral-de-fogo no banco Leste, entre 50 e 43 metros de profundidade. Possivelmente é o maior banco desse coral no Brasil inteiro’, diz o pesquisador da UFPE Mauro Maida. ‘A gente nunca tinha visto isso antes e, quando viu, estava branqueando.’
A zona mesofótica é uma área um pouco mais profunda do oceano, onde a luz solar ainda chega, mas de forma menos intensa e onde a temperatura do oceano é mais fria que na superfície. As outras quatro espécies registradas nos bancos do Norte, Montastrea cavernosa, Siderastrea stellata, Meandrina brasiliensis e a ameaçada Mussismilia harttii, também apresentaram pontos de branqueamento. Os corais são invertebrados marinhos capazes de se alimentar sozinhos, mas grande parte de sua dieta é obtida através de uma simbiose, ou seja, uma relação mutuamente benéfica, com as algas zooxantelas.
A partir da realização da fotossíntese, as algas fornecem nutrientes para seus hospedeiros animais. As zooxantelas também são responsáveis pelas cores dos corais. Quando a temperatura do mar sobe, no entanto, elas abandonam os animais e os deixam esbranquiçados. Sem os nutrientes oferecidos pelas algas, os corais podem até continuar vivos e se alimentando de micro-organismos por meses, mas sua saúde fica prejudicada, o que os torna mais suscetíveis a doenças e à morte.
Uma nova onda de branqueamento global está atingindo, este ano, vários recifes de corais em todo o mundo e, no litoral nordeste brasileiro, o fenômeno vem sendo observado desde o início de março. Mauro Maida realiza expedições aos bancos do Norte e da cadeia vizinha de Fernando de Noronha desde 2016 e diz que nunca tinha observado o branqueamento de corais na zona mesofótica na região. ‘Os recifes mesofóticos eram tidos como menos suscetíveis ao aquecimento global, mas estamos vendo que o negócio chegou lá no fundo. Esse El Niño [fenômeno de aquecimento das águas do Pacífico que influencia o clima em outros oceanos e continentes] foi tão extremo que aumentou inclusive a temperatura do fundo’, explica o pesquisador.
Segundo Maida, o branqueamento de corais é um indicador preocupante da situação climática global. ‘Isso é um termômetro. A coisa está tão feia que está chegando ao fundo do mar.’ Coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste.
Fonte: © TNH1
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